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terça-feira, 15 de maio de 2012

Raio X Cariri das Margens (Parte 4) - Tela Grande


Tela Grande

Foto da Mostra 21 de Cinema, Janeiro 2012
Desde a volta do cinema comercial pro Cariri, por volta de 1997, a população tem à disposição duas salas de exibição comercial. Localizadas no Cariri Shopping em Juazeiro do Norte, a programação normalmente se resume aos filmes mais populares, que ficam em cartaz o tempo necessário para satisfazer as necessidades mercadológicas. No entanto, as salas também sempre deixaram muito a desejar em outros quesitos, como em relação a problemas de som, imagem e deficiências no sistema de climatização. Mas talvez a pior de todas, e que particularmente eu considero um fenômeno gravíssimo de falta de discernimento por parte do público, é que muitas sessões de filmes não infantis, eram disponibilizados apenas na versão dublada. Infelizmente isso é algo que ocorre a nível nacional e vem geralmente acompanhado da premissa “ou eu leio ou eu vejo as imagens”, mas isso são lágrimas de um próximo pranto.
Atualmente o cinema do shopping está sendo ampliado e com isso vem a esperança de que as coisas melhorem. Todavia, o que quero chamar atenção neste momento é para um outro circuito cinematográfico, gratuito, marginal, democrático e com uma nobre finalidade: despertar um senso crítico não só das temáticas abordadas como também sobre fazer cinema, enquanto atividade estética. 

Cartazes de programação
Falar em “cinema marginal” no Cariri e não falar em Elvis Pinheiro é como falar em nazismo e não se lembrar de Hitler! (Elvis perdão pela comparação, mas vale a força da metáfora pela sua representatividade) Peça chave de iniciativas relativas à criação de cineclubes e grupos de leitura, Elvis possibilita vários dias por semana o acesso a filmes dos mais variados estilos, europeus, clássicos, documentários, etc. Com o apoio institucional do SESC Crato e Juazeiro do Norte e CCBNB atualmente, existem cinco sessões gratuitas de cinema no Cariri. Cinemarana, Cinematógrapho, Cine Arte Leão, Cine Café e Curta Muito. As sessões são apresentadas em salas de teatro com boa qualidade de som e imagem, e não deixam nada a desejar às salas do antigo cinema do shopping. Ao final de cada sessão Elvis conduz um debate acerca do filme assistido de forma que todos podem opinar, tirar dúvidas e sugerir soluções ou discordar de outras opiniões enriquecendo o entendimento coletivo ou desconstruindo uma visão até então tida como “verdadeira” sobre determinado assunto. O intuito das sessões não é apenas de entreter o público, mas também de apresentar uma nova maneira de ver e entender o cinema. Apresentar uma gama de obras e diretos importantes da cinematografia mundial que são pouco conhecidos pelo grande público, assim desconstruindo uma visão fechada de que o cinema se resume ao estilo hollywoodiano. Desta forma, Elvis ocupa um papel fundamental no que diz respeito ao ato de consumir cinema no Cariri, pois existe claramente uma mudança de comportamento por parte de um público, que foi introduzido no cinema de arte por intermédio das sessões conduzidas por ele e que hoje caminham com as próprias pernas neste sentido. Eis um de seus fundamentos: A formação de platéia.
Nos últimos anos, outro evento que vem ganhando força e reafirmando o potencial desse público crescente, é a Mostra 21 de cinema. O evento consiste na exibição de filmes durante 21 dias ininterruptos seguidos de debates. Os filmes exibidos são selecionados por Elvis e sempre seguem uma lógica temática que subintitula o evento. Por falar em festival, Elvis também foi responsável pelo cadastramento da cidade do Crato no festival "Dia internacional da Animação", que aconteceu simultaneamente em centenas de cidades pelo país, com produções nacionais e internacionais.
Outra iniciativa independente de exibição de filmes no Cariri foi o Cinetério, encabeçado pelo Professor de filosofia Claudio Reis, o Cinetério apresentava produções clássicas do cinema de horror em praça pública na cidade de Crato, em uma sessão maldita que acontecia no final da noite entrando madrugada a dentro.
Entrando agora no tema da produção, a história caririense de cinema não parou no tempo com seus grandes representantes da sétima arte, como Rosemberg Caryry, Jefferson Albuquerque, Jackson Bantim. Uma nova geração começou os anos 2000 fazendo muito barulho, cheios de idéias na cabeça e câmeras em punho!
Também sou teu povo
A produção “Também Sou Teu Povo”, assinada por Orlando Pereira e Franklin Lacerda é um dos melhores representantes dessa nova geração. O curta-metragem retrata a vida de travestis na cidade de Juazeiro do Norte que dão uma conotação diferente às romarias na cidade, mostrando que o divino e o profano convivem bem mais perto do que as pessoas imaginam. Glauco Vieira também dirigiu um curta metragem de ficção ambientado na colina do horto. “A Cerca” é mais uma produção resultante do curso de cinema promovido pelo Dragão do Mar aqui no Cariri, que reuniu um grupo de pessoas muito importantes na fomentação deste boom audiovisual na região. “A quarta parede” de Roberto Carlos foi mais um curta que figurou entre as produções advindas deste curso. Daí por diante essas pessoas arregaçaram as mangas e continuam colocando em prática seu aprendizado técnico e suas experimentações, incentivando um número cada vez maior de pessoas a produzir. No ano de 2010, um edital de audiovisual da Secretaria de Cultura do Estado premiou quatro projetos do Cariri com bolsas de dez mil reais para produção audiovisual, dentre os contemplados estão Allison Gomes, Judson Jorge e Ythallo Rodrigues, que já assinou várias produções dentro e fora do estado, participando de filmes como “Céu de Suely” que teve repercussão nacional. 

Jackson Bantim durante gravação
Jackson Bantim é cineasta da velha guarda que continua na ativa. Sua última produção foi “As sete almas santas vaqueiras”, um curta-metragem de ficção filmado em Santa Fé e com o elenco composto por atores das Cias de teatro da Região, o filme conta com um bom investimento e chama a atenção por uma tomada aérea feita de helicóptero. Jackson já tem uma filmografia considerável e continua realizando suas produções que sempre carregam características bem próprias do diretor.A professora Virgínia Soares do Departamento de História da URCA, lançou em 2008, com apoio do IMAGO (órgão de audiovisual vinculado ao depto. De Geografia da URCA do qual Glauco Vieira e Jackson Bantim fazem parte) o longa-metragem “Crato”, documentário que traz diversas entrevistas com personalidades da cidade falando sobre os aspectos culturais e o tradicionalismo da cidade.
O projeto Verde Vida sediado na Ponta da Serra é outro exemplo de investimento no desenvolvimento das novas gerações. A ONG promove cursos e oficinas as quais dentre elas encontra-se fotografia, edição de vídeo, Stop-motion, manuseio de equipamento, tudo voltado para incentivar os jovens a ingressarem nessas linguagens. E o resultado é uma grande quantidade de vídeos e matérias gráficos feito pelas crianças.
Fundação Casa Grande - Nova Olinda
A Casa Grande em Nova Olinda é outro importantíssimo pólo cultural do Cariri, que dentre outras coisas, possui um estúdio de gravação e uma ilha de edição com equipamentos de última geração que são geridos exclusivamente por jovens e crianças que vão voluntariamente aprender e ensinar, tudo baseado na prática e na cooperação mútua, onde um ensina ao outro e desta forma é transmitido o conhecimento, sem o tradicionalismo de uma sala de aula. Esta instituição já possui alguns anos de estrada e conseqüentemente já formou vários profissionais nas áreas de teatro, música, rádio, audiovisual e técnicos de uma forma geral. A Casa Grande já possui um grande acervo de vídeos produzidos, dentre eles um videoclipe de uma música do Gaitista Jefferson Gonçalves. A maioria dos vídeos da TV Casa Grande estão disponíveis na internet.
É quase impossível citar aqui todos os casos que justifiquem o Cariri como detentor de um potencial para se tornar um pólo audiovisual de referência no estado, não só pela ampla quantidade de exemplos, mas principalmente devido à minha memória precária. Mas pelo pouco já exposto da pra ter idéia de como as coisas andam fervilhantes por aqui, e a tendência é que isso se propague em progressão geométrica, posto que quanto mais gente interessada houver, maiores as chances de novas pessoas serem influenciadas por essa efervescência. 

Texto: Alexandre Macêdo



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