Tocas e Malocas
Blandino e João do Crato |
Quando pensamos em
lugares “malucos”, “lugares da galera” ou, seja lá como for conhecido aqueles
espaços que acolhem as pessoas “diferentes” de um lugar, na sua maioria,
minorias sociais, no Cariri temos dois nomes de referência: O Chá de Flor e O
Rosto. Estes dois lugares (que foram citados pela sua importância histórica,
porém não foram os únicos do tipo) são lembrados até hoje com muita saudade
pelos que os freqüentavam. O Chá de Flor que ficava perto do lendário Velho do
Caldo na entrada da cidade era administrado por Blandino (O bruxo) que mexia
seu caldeirão para preparar o elixir das lombras coletivas.
Já o Rosto,
situado no Lameiro perto da Cascata do Crato, durou até meados dos anos 2000 e
era administrado por Wilson. Palco de várias noitadas que habitam as memórias
atuais, o rosto também era famoso pelo seu clima agradável do pé da serra e o
famoso peixe frito com baião de dois.
Outro local
importante que não pode deixar de ser lembrado é o Los Zetas. Este, com sua
inconfundível logomarca que apresentava três pirados usando luvas como chapéus,
acontecia durante a Expocrato e acolhia os “doidos” como de costume. Peguei
ainda os últimos dois anos do Los Zetas (em 2002 ou 2003 se não me falha a
memória) as lembranças mais vivas que tenho de lá é Rage Against The Machine
nas alturas e spray de pimenta na galera que ficava no morrinho.
Deixando a
nostalgia um pouco de lado, vamos retomar o discurso dos novos personagens. E
aproveitando que acabei de citar o Los Zetas, vou falar agora do que pode ser
considerado como sua cria (e bem criada) a barraca Etanol.
Etanol 2005 - Foto Daniel Almino |
A Etanol é uma
criação dos irmãos Daniel e David Almino (que freqüentavam o Los Zetas) e
juntamente com um terceiro sócio, Paulo, inauguraram a barraca no segundo ano
após o fechamento do Los Zetas, abrigando assim aquele público que havia ficado
desguarnecido durante um ano na Expocrato. Já na sua segunda edição a etanol
contou com a participação de algumas bandas que tocaram de forma meio
improvisada nos dias que antecederam a abertura do evento. Nesses dois
primeiros anos a Etanol ficava na parte fechada do parque onde aconteciam os
shows. Muita gente começou a reivindicar a saída da barraca para parte de fora
e após um 2006 de folga a Etanol voltou com tudo em 2007, na parte de cima, e
com um mini-festival de bandas independentes que fizeram muito barulho nos dias
antes da abertura oficial do evento. Foram cerca de 10 bandas de Crato e
Juazeiro, a maioria de ainda moleques que posteriormente viriam se tornar
grandes músicos.
Por duas vezes
também ouve uma edição da barraca no Sítio Carás na Palmeirinha chamada
Etanóico Musical. Esta extensão da barraca surgiu devido ao sucesso alcançado
na edição de 2007 com as bandas. Um episódio que vale à pena ser mencionado
neste primeiro etanóico foi a disposição de alguns jovens aspirantes a ressuscitadores
do espírito libertário dos anos sessenta e uma criatividade ilógica, típica de
meninos buchudos, caíram em uma possível pegadinha de alguém que disse que
raspar caule de Jurema e cheirar daria alguma reação psicotrópica. Trágico meus
amigos, trágico.
Depois disso a
barraca se mudou mais uma vez para outro local. Desta vez atrás do prédio do
Geopark e há três anos lá, vem sendo o refúgio daqueles que não apreciam as
atrações convidadas a tocar na Expocrato e acham na barraca uma variedade de
músicas que agrega todas as tribos menos favorecidas pelos “donos da bola”.
Outros locais
que atendiam aos anseios deste público aconteceram também em espaços como o
Flor de Pequi que durou muitos anos e ajudou a consagrar na noite caririense
bandas como a Night Life. O navegarte, que tinha um caráter quase de casa de
shows e foi onde aconteceu o último show (um dos) da Banda Dr. Raiz, na mesma
noite tocou também a banda Alegoria da Caverna. Ficava localizado na entrada da
cidade onde há alguns anos atrás era o Extinto Chá de Flor. O Olhar Casa das Artes,
na praça da Sé, foi outro lugar que
apesar de durar pouco tempo, cerca de 2 anos, movimentou bastante a noite
caririense e serviu de palco para apresentações memoráveis de Manel de Jardim e
encontros importantes dessa nova geração que teve lá, um de seus pontos de
partida para o desenvolvimento de suas próprias intenções. O local que tinha no
seu quintal um charmoso bar com um palco redondo, durante o dia servia de
ateliê de restauração de obras de arte e norte magnético de confluência das
idéias.
O Café
Estação, que antes de se mudar para o Grangeiro onde hoje funciona outro
espaço, o Teraçus, encontrava-se no Largo da RFFSA e era administrado por
Robson Texeira, que sempre demonstrou suas boas intenções e convicções durante
o tempo que esteve de portas abertas. Sempre com uma agradável acolhida, o Café
Estação também foi um importante palco para as bandas independentes da região
do Cariri. Raro era o fim de semana que não havia algo por lá. Deve-se
reconhecer os esforços e resultados alcançados por este espaço que merece esta
citação.
Pra encerrar
este trecho da conversa ainda posso citar lugares mais recentes no Cariri que
representam um pouco destes nichos marginalizados do entretenimento, como o
Armazém Musical que durou pouquíssimo tempo e os contemporâneos Cantinho do
Pimenta, Taberna do Sabor, Santa Esquina e João e Maria, que apesar de manterem
um aspecto bem mais elitizado ainda comungam um pouco das idéias dos lugares supracitados.
E o ultimo e não menos importante (talvez o mais próximo daqueles citados no
começo) é o Cabeça de Cavalo. Com um dono digno de um personagem extravagante
de cinema, Ricardo, o lugar é atualmente o mais underground do Cariri e passa por alguns problemas para se manter
aberto por conta das constantes reclamações dos vizinhos.
Texto: Alexandre Macêdo
Xamex, fui dar um Google em uns temas do Cariri, e cheguei ao seu site. Grande historiador da noite caririense!
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