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terça-feira, 8 de maio de 2012

Raio X Cariri das Margens (Parte 2): Tocas e Malocas


Tocas e Malocas

Blandino e João do Crato
            Quando pensamos em lugares “malucos”, “lugares da galera” ou, seja lá como for conhecido aqueles espaços que acolhem as pessoas “diferentes” de um lugar, na sua maioria, minorias sociais, no Cariri temos dois nomes de referência: O Chá de Flor e O Rosto. Estes dois lugares (que foram citados pela sua importância histórica, porém não foram os únicos do tipo) são lembrados até hoje com muita saudade pelos que os freqüentavam. O Chá de Flor que ficava perto do lendário Velho do Caldo na entrada da cidade era administrado por Blandino (O bruxo) que mexia seu caldeirão para preparar o elixir das lombras coletivas.
Já o Rosto, situado no Lameiro perto da Cascata do Crato, durou até meados dos anos 2000 e era administrado por Wilson. Palco de várias noitadas que habitam as memórias atuais, o rosto também era famoso pelo seu clima agradável do pé da serra e o famoso peixe frito com baião de dois.
Outro local importante que não pode deixar de ser lembrado é o Los Zetas. Este, com sua inconfundível logomarca que apresentava três pirados usando luvas como chapéus, acontecia durante a Expocrato e acolhia os “doidos” como de costume. Peguei ainda os últimos dois anos do Los Zetas (em 2002 ou 2003 se não me falha a memória) as lembranças mais vivas que tenho de lá é Rage Against The Machine nas alturas e spray de pimenta na galera que ficava no morrinho.
Deixando a nostalgia um pouco de lado, vamos retomar o discurso dos novos personagens. E aproveitando que acabei de citar o Los Zetas, vou falar agora do que pode ser considerado como sua cria (e bem criada) a barraca Etanol.
Etanol 2005 - Foto Daniel Almino
A Etanol é uma criação dos irmãos Daniel e David Almino (que freqüentavam o Los Zetas) e juntamente com um terceiro sócio, Paulo, inauguraram a barraca no segundo ano após o fechamento do Los Zetas, abrigando assim aquele público que havia ficado desguarnecido durante um ano na Expocrato. Já na sua segunda edição a etanol contou com a participação de algumas bandas que tocaram de forma meio improvisada nos dias que antecederam a abertura do evento. Nesses dois primeiros anos a Etanol ficava na parte fechada do parque onde aconteciam os shows. Muita gente começou a reivindicar a saída da barraca para parte de fora e após um 2006 de folga a Etanol voltou com tudo em 2007, na parte de cima, e com um mini-festival de bandas independentes que fizeram muito barulho nos dias antes da abertura oficial do evento. Foram cerca de 10 bandas de Crato e Juazeiro, a maioria de ainda moleques que posteriormente viriam se tornar grandes músicos.
Por duas vezes também ouve uma edição da barraca no Sítio Carás na Palmeirinha chamada Etanóico Musical. Esta extensão da barraca surgiu devido ao sucesso alcançado na edição de 2007 com as bandas. Um episódio que vale à pena ser mencionado neste primeiro etanóico foi a disposição de alguns jovens aspirantes a ressuscitadores do espírito libertário dos anos sessenta e uma criatividade ilógica, típica de meninos buchudos, caíram em uma possível pegadinha de alguém que disse que raspar caule de Jurema e cheirar daria alguma reação psicotrópica. Trágico meus amigos, trágico.
Depois disso a barraca se mudou mais uma vez para outro local. Desta vez atrás do prédio do Geopark e há três anos lá, vem sendo o refúgio daqueles que não apreciam as atrações convidadas a tocar na Expocrato e acham na barraca uma variedade de músicas que agrega todas as tribos menos favorecidas pelos “donos da bola”.
Outros locais que atendiam aos anseios deste público aconteceram também em espaços como o Flor de Pequi que durou muitos anos e ajudou a consagrar na noite caririense bandas como a Night Life. O navegarte, que tinha um caráter quase de casa de shows e foi onde aconteceu o último show (um dos) da Banda Dr. Raiz, na mesma noite tocou também a banda Alegoria da Caverna. Ficava localizado na entrada da cidade onde há alguns anos atrás era o Extinto Chá de Flor. O Olhar Casa das Artes, na praça da Sé, foi outro lugar  que apesar de durar pouco tempo, cerca de 2 anos, movimentou bastante a noite caririense e serviu de palco para apresentações memoráveis de Manel de Jardim e encontros importantes dessa nova geração que teve lá, um de seus pontos de partida para o desenvolvimento de suas próprias intenções. O local que tinha no seu quintal um charmoso bar com um palco redondo, durante o dia servia de ateliê de restauração de obras de arte e norte magnético de confluência das idéias. 
O Café Estação, que antes de se mudar para o Grangeiro onde hoje funciona outro espaço, o Teraçus, encontrava-se no Largo da RFFSA e era administrado por Robson Texeira, que sempre demonstrou suas boas intenções e convicções durante o tempo que esteve de portas abertas. Sempre com uma agradável acolhida, o Café Estação também foi um importante palco para as bandas independentes da região do Cariri. Raro era o fim de semana que não havia algo por lá. Deve-se reconhecer os esforços e resultados alcançados por este espaço que merece esta citação.
Pra encerrar este trecho da conversa ainda posso citar lugares mais recentes no Cariri que representam um pouco destes nichos marginalizados do entretenimento, como o Armazém Musical que durou pouquíssimo tempo e os contemporâneos Cantinho do Pimenta, Taberna do Sabor, Santa Esquina e João e Maria, que apesar de manterem um aspecto bem mais elitizado ainda comungam um pouco das idéias dos lugares supracitados. E o ultimo e não menos importante (talvez o mais próximo daqueles citados no começo) é o Cabeça de Cavalo. Com um dono digno de um personagem extravagante de cinema, Ricardo, o lugar é atualmente o mais underground do Cariri e passa por alguns problemas para se manter aberto por conta das constantes reclamações dos vizinhos.

Texto: Alexandre Macêdo

Um comentário:

  1. Xamex, fui dar um Google em uns temas do Cariri, e cheguei ao seu site. Grande historiador da noite caririense!
    Continue!

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