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sexta-feira, 17 de junho de 2011

É ritmoooo. Ritmo de feeeesta!


      Já virou jargão “depois da semana santa o cariri só para em agosto”, e mais uma vez a profecia vem se cumprindo. No dia 9 de julho acontece mais uma edição da Expotronic, tendência esta que, confesso, eu achava que seria modinha passageira (assim como os sucessos de forró) mas as controversas raves já perduram por vários anos no cenário caririense e não demonstram cansaço. Parece que o negócio veio pra ficar mesmo! 
     A ultima rave que fui no Juazeiro, Double Life, trazia uma inovação interessante. A organização do evento, numa sacada muito boa, entrou em parceria com o Ponto de Cultura Mestre Noza (http://pontodeculturamestrenoza.blogspot.com/) e expôs obras de arte naif dentro do espaço da festa.
     
        
Augusto Bitu
      



Ainda nesse clima de mistura entre tradição e modernidade, abaixo segue o cordel “A reide” de Augusto Bitu. Numa perspectiva muito bem humorada o autor retrata o ambiente da rave do ponto de vista do matuto. 


  



A Reide

Veio uma turma pra fazenda
Pra mode fazer uma festa
E eu pensando ser um baile
Ou então uma seresta
Mas me disse a dona Neide
Que era uma tar duma reide
E eu sei lá que festa é esta

Ligeiro que uma meninada
Nuns carrão apareceu
Tudo escuitando são alto
Que quase me  endoideceu
Era um batido de panela
Um arrastado de chinela
Que o pé de ouvido troceu

Então chegaram pra eu
Na maior pinotadeira
Era um funaré de gente
Balançando as cadeira
Que nem doido dançando
Tudo sôrto requebrando
Que djabo de bagaceira

Me pediro umas fogueira
Eu diche: e vai ter São João?
Encostaro as camioneta
 Cheinha de caixa de são
Infileiraro aquelas bicha
E o são truou que as laigaticha
Fugiro de assombração

Uma macarronada preta
De fio pra todo lado
Umas morena bonita
Tudo povo raciado
Com uns oclão assim de prato
Nos cabelo uns camin de rato
E os beiços tudo furado

 Se pregasse mais uns brinco
Eles iam se enganchá
Inda mais cum aquelas trança
De cabelo de arapuá
Eita que povo invocado
Os caba mais pintiado
Era uns careca aculá

Um caba se pegou duns cano
Rebolava os bicho pra riba
Com as ponta pegando fogo
É um tar de malanbariba
Já isso eu achei legal
Pois numas perna de pau
O danado se equilibra

E eu só me preguntando
Onde a banda vai tocá?
Por que só tinha uma mesa
Para a turma se atrepá
E echero ela duns troço
Chei de butão os negoço
Dava inté prela avuá

E chego um tar de Digê
Que todo mundo esperava
Um magrelo rupiado
Que os butãozim biliscava
Enquanto uma tuia de fumaça
Me deixava todo sem graça
Pois era a mesa quem peidava

Parecendo uma visão
De um disco avoador
Uma ruma de troço briando
E um baruião de motor
Daqueles de avião
Um estrondo de exprosão
De revorve atirador

Ôche mas foi só começá
A danada da fuzarca
Que até mais parecia
Que ia afundar a barca
E naquele catolé
Me pizaro tanto o pé
Que ainda hoje eu tem maica
 
Pimenta foi que botaro
Naquelas lata magrela
Só dava esse tar de nergético
E ninguém sortava ela
Se escuitava “eu tô frevido”
E  foi tanto comprimido
Que turmavum de cautela

Devia ser enxaqueca
Daquele são estrodonso
Ontonse pro mode a causa
Daqueles facho brioso
Que o povo tinha bebido
Aquele horrô de comprimido
Ou então devia ser gostoso

A certeza que eu tem
É de que não era sargado
Pois todo mundo dizia
Que tava era aducicado
E a festa pra noite entrô
Posso lhe dizer seu dotô
Pense num povo animado

Mas tudo menino bão
Eu vi quera gente dereita
Só bebiam mermo água
E não sei qual a receita
Eu fui deitá três hora
E a turma ali na tora
A festa ninguém injeita

Eu me acordei cinco hora
Ainda com bate estaca
E fiquei impressionado
Essa turma não é fraca!
Tavum do mermo jeitim
Pinotando que nem soim
Quando vai comer uma jaca

Tinha muié de todo jeito
Saudinha dançando só
De pirulito na boca
Umas pequena, outras maior
De shortim e de sainha
Tudo, tudo molhadinha
Tava cego aquele nó

Mas que visão seu dotô
Me deu logo um comichão
Uma vontade de dançá
De bater meu pé no chão
Comecei a me retrocê
E eu digo a vóis mecê
Que num me arrependo não

Pois num deu nem dois minuto
Pra que eu me arrumasse
E o povo arremedava
Todo jeito que eu dançasse
Eita que festha e boa!
Caiu chuva e garoa
Sem que ninguém ali parasse

Num é que nem forró
Que tem um passo marcado
O caba faz é de tudo
Só não fica é parado
É diversão garantida
Num perco mais na minha vida
Esse tar de são pesado

E tem toda marca de são
É o trança e o pizai
E o tar de drorme os beiço
Neles tudo o caba cai
Num precisa acanhamento
É que nem bambu no vento
Naquele vai num vai

Tô pensando inté agora
De fazer umas tatuage
Umas traira e umas vaca
Um trator numa rodage
Botar nos dedo uns ané
Vô tombem compra um boné
Com a seguinte aomenage:

Eu já dancei o xaxado
Xote, valsa e baião
Só não fiquei foi parado
Pois eu sô da animação
Mas reide eu num posso nem vê
Que eu digo logo pro digê
Arromba ai nos Butão.
 
Dados do Autor

            Nascido em Crato, cariri cearense, Luiz Augusto Bitu é um poeta teimoso que experimenta novas linguagens em antigas técnicas. Um artista que enfrenta a cruel realidade do mundo com humor, sempre na tentativa de levar algo novo e divertido para o público.

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